Algumas perguntas a Arthur Lins, realizador de “A Felicidade dos Peixes” e integrante do coletivo Filmes a Granel, que já foi tema de post aqui no blog. “A Felicidade dos Peixes” é o quarto curta-metragem de Arthur a ganhar exibição no CineEsquemaNovo – os outros foram “O Plano do Cachorro” e “Um Detalhe Luzi” (ambos em 2009), e “Um Fazedor de Filmes”, premiado no CEN 2007 nas categorias de Melhor Personagem Real (Júri de Premiação) e Melhor Curta ou Média pelo Júri Popular.
Sinopse: O mar seria imenso para nós dois, mas neste aquário não te cabe querida.
CEN – “A Felicidade dos Peixes” é bem diferente de outros filmes teus, como “Um Fazedor de Filmes” e “O Plano do Cachorro”. Existem tempos deste novo trabalho que nos fazem imergir na vida entediante do personagem. O que mudou no teu olhar?
Tento encarar cada projeto a partir de suas motivações internas, por isso a diferença é algo constituinte neste processo pessoal de fazer filmes. No “Fazedor…” tinha um desejo pueril e um encantamento quase ingênuo com o fazer artístico, por isso o personagem e o tema do filme refletem esse olhar de identificação e de adesão completa àquele universo retratado. É como se estivéssemos endossando a nossa própria condição de fazedores de filmes, sem problematizar esse ato. Já no “Plano do Cachorro”, penso que se trata de um olhar mais cínico e comprometido com aquilo que estávamos a criar. Acho que existia uma consciência mais ativa sobre as estratégias usadas na construção do filme. De simples fazedor, passa-se a ser manipulador.
Isso me faz pensar que o “Peixes” é um filme desencantado porque encontrou esse personagem entediante e solitário, quase à margem da “vida” e da socialização, mas ao mesmo tempo é o meu filme mais esperançoso, pois os pequenos gestos, a contenção dramática do personagem e a banalidade das ações tornam-se um motivo vivo para se fazer cinema, ou seja, é como se qualquer personagem e qualquer assunto pudessem ser cinematográficos. Nesse caso, o olhar despe-se de suas intenções manipuladoras e passa a ser o mecanismo que ativa aquela existência no momento em que a traz à tona (à tela) e se interessa em conhecer a sua complexidade.
Isso me faz pensar que o “Peixes” é um filme desencantado porque encontrou esse personagem entediante e solitário, quase à margem da “vida” e da socialização, mas ao mesmo tempo é o meu filme mais esperançoso, pois os pequenos gestos, a contenção dramática do personagem e a banalidade das ações tornam-se um motivo vivo para se fazer cinema, ou seja, é como se qualquer personagem e qualquer assunto pudessem ser cinematográficos. Nesse caso, o olhar despe-se de suas intenções manipuladoras e passa a ser o mecanismo que ativa aquela existência no momento em que a traz à tona (à tela) e se interessa em conhecer a sua complexidade.
CEN – O personagem é entediante, mas queremos conhecê-lo. A vida é comum, mas queremos vê-la. Qual é a felicidade dos peixes?
Talvez seja abrir mão de uma pretensa e cansativa busca por um tipo ideal de felicidade. Felicidade hoje passou a ser sinônimo de sucesso, no sentido bem capitalista que faz parte da sociedade de aparências na qual vivemos. Nesse excesso de imagens positivas e de personagens bem-sucedidos, o tédio, o vazio, e a banalidade passam a ser espaços de resistência, que se impõem como uma força contrária e atuante. No filme, acho que há essa preocupação em não delimitar muito bem as fronteiras, em não pensar a felicidade em oposição à tristeza, mas apenas constatar um modo de ser e de pensar as coisas distante do jogo das aparências, talvez por isso fosse importante deixar o nosso personagem só, sem espelhos.
CEN – Fale um pouco sobre o esquema de produção da Filmes a Granel, na Paraíba.
Funciona como um consórcio. Cada um dos 20 integrantes deposita R$ 50,00 por mês e a soma dessa quantia é entregue ao realizador sorteado, de modo que ele recebe mil reais para fazer seu filme. Sabemos que o valor é ínfimo e por isso o dinheiro funciona como um elemento quase simbólico agregando os cooperados. O que se sobressai é o estímulo à parceria e às novas formas de organização que a cooperativa instiga nos integrantes, mas todos têm total liberdade para formar suas equipes e instaurar o seu próprio processo produtivo. Acontece que dessa forma fica mais fácil conseguir apoio financeiro e institucional para todos os projetos cooperados.
Criamos também uma sessão de cineclube chamada ‘um cinema sob influência’ onde cada realizador sorteado exibe um filme-referência ao seu futuro projeto e expõe a sua concepção de cinema num debate público. Esse sistema funciona muito mais como uma forma de agregar os realizadores em um projeto comum e como forma de estímulo para que o filme aconteça na tela e não fique apenas no papel ou em conversas de mesa de bar.
Criamos também uma sessão de cineclube chamada ‘um cinema sob influência’ onde cada realizador sorteado exibe um filme-referência ao seu futuro projeto e expõe a sua concepção de cinema num debate público. Esse sistema funciona muito mais como uma forma de agregar os realizadores em um projeto comum e como forma de estímulo para que o filme aconteça na tela e não fique apenas no papel ou em conversas de mesa de bar.
CEN – Ao que tu creditas a criatividade dos filmes paraibanos nos anos recentes, e o que impulsiona esta geração da qual tu faz parte?
Acho que essa criatividade é reflexo dos novos processos produtivos e da urgência em fazer o cinema paraibano ser plural e pulsante. Tem haver com o amadurecimento criativo de um grupo de jovens realizadores que se encontram, trocam idéias, aprofundam os laços, e compartilham de referências culturais próximas. Há pouco tempo atrás, existia nessa geração uma idéia clara em afirmar que o cinema paraibano pode ser moderno, engajado, urbano e atento para novas formas de organização e articulação da linguagem audiovisual. Ou seja, passa por essa fase da rejeição ao careta e ao conservador que estagna um cenário produtivo, mas não fica apenas nisso. Hoje, o que move são os próprios filmes realizados dentro desse contexto criativo. Aquilo que antes era o foco ruim de nosso cinema passa a ser desconsiderado e pouco lembrado, e o cinema que julgamos instigante sugere os parâmetros estéticos e os novos rumos que impulsionam outros realizadores. Mas no geral essa idéia geracional ainda é algo muito novo e pouco discutido no contexto paraibano. Estamos apenas começando.
CEN - No que você está trabalhando neste momento?
Estou finalizando um longa documental produzido pela TV Universitária da Paraíba, local onde eu trabalho há dois anos, sobre um grande trombonista paraibano que morreu precocemente no ano passado. O filme terá o seu nome, “Radegundis Feitosa”, e será exibido na grade da TV. Fora isso, tem os projetos mais autorais e independentes. Atualmente amadureço a possibilidade de realizar uma antiga idéia, fazer um curta sobre um jovem suicida acidental.
CEN – Link de referência do seu trabalho e / ou trailer do filme: www.filmesagranel.blogspot.com
[extraido do http://cineesquemanovo.wordpress.com, 8/04/2011]
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