terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Diretores dividem equipe para fazer três filmes com R$ 100 mil

Projeto, coproduzido por Leandra Leal, tem como objetivo rodar duas ficções e um documentário em três semanas





Bruno Safadi e Ricardo Pretti com Leandra Leal no set de "Amor Fati", que tem ainda Mariana Ximenes no elenco
Foto: Agência O Globo / Alexandre Cassiano
Bruno Safadi e Ivo Lopes com Leandra Leal no set
de "Amor Fati",que tem ainda Mariana Ximenes no elenco
Agência O Globo / Alexandre Cassiano
RIO - Com R$ 100 mil, os diretores Bruno Safadi e Ricardo Pretti, em parceria com a atriz Leandra Leal, encontraram uma equação financeira que viabilizou a produção de três longas-metragens em três semanas. De 26 de janeiro até quinta-feira passada, eles rodaram duas ficções estreladas por Leandra, Mariana Ximenes e Jiddu Pinheiro: "O Rio nos pertence" e "Amor Fati". Filmaram ainda um documentário sobre o processo: "Meta mancia", codirigido por Lucas Barbi. Os cineastas compartilharam equipe e elenco, sem deixar de pagar ninguém. O segredo: enxugar custos e dividir tarefas.

A empreitada foi batizada de Projeto Sonia Silk. O nome é uma homenagem à personagem de Helena Ignez em "Copacabana mon amour" (1970), também gestado em processo coletivo na extinta produtora Belair, de Rogério Sganzerla (1946-2004) e Julio Bressane.

— Duas ideias primordiais nortearam a nossa realização. A primeira: fazer uma companhia de cinema. A segunda: combinar talentos e disciplinas, ou seja, trazer estrelas de novelas das oito para filmar com cineastas autorais longas que têm artistas plásticos no set e usam músicas de Caetano na trilha — diz Safadi, realizador de "Meu nome é Dindi" (2007). — Queremos lançar os três filmes no Festival de Roterdã, na Holanda, em 2013.

Pretti tornou-se conhecido por seu trabalho no coletivo Alumbramento, do Ceará, que rodou "Estrada para Ythaca" (2010), marco do Novíssimo Cinema Brasileiro. É dele a direção de "O Rio nos pertence", em que Leandra está às voltas como uma conspiração promovida pelo mercado imobiliário que gera um surto de suicídios em massa na cidade.

— O mais bacana do Projeto Sonia Silk é que ele me permite um trabalho de coautoria para além da minha participação como atriz e produtora — diz Leandra. — A fronteira dos cargos entre nós não é fechada.
No ano passado, Leandra filmou com Safadi o drama "Éden", ainda inédito. Acabadas as filmagens, eles embarcaram no Projeto Sonia Silk, cuja ideia Safadi desenvolveu ao filmar com Noa Bressane um documentário sobre a Belair, lançado em 2011. Nas pesquisas, ele colheu exemplos históricos sobre iniciativas de filmar projetos autorais otimizando tempo e gastos, como o Grupo Dziga Vertov, que uniu Jean-Pierre Gorin e Jean-Luc Godard nos anos 1970.

Apoio do Canal Brasil
Com recursos obtidos junto ao Canal Brasil e a presença de Leandra, ele e Pedro viabilizaram tramas que compensam o baixo orçamento com invenção. Em "Amor Fati", Safadi conta como o casal Antonia e Pedro (Mariana e Pinheiro) se desestabiliza quando ela se apaixona por Luana, vivida por Leandra.
— É um olhar sobre relações amorosas contemporâneas — diz Leandra.

Nos três projetos, Safadi e Pretti filmaram com o fotógrafo Ivo Lopes Araújo, a artista visual Luísa Horta (na direção de arte) e o técnico de som e cineasta Pedro Diógenes.

— A relação do Rio de Janeiro com o cinema sempre me pareceu um bicho de sete cabeças. De um lado estamos sujeitos à imponência de um mercado televisivo glamouroso e, do outro, há uma realidade cultural que desconfia muito da relevância que a arte pode e deve ter. Por isso o cinema carioca se ancora muito nas normas do mercado pra poder se legitimar e existir — diz Pretti. — O Sonia Silk, nesse sentido, foi capaz de unir pessoas de vários universos em prol de três filmes inusitados, urgentes.

[extraido do globo.com]

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