domingo, 10 de outubro de 2010

UM INVESTIGADOR DE LINGUAGENS



Por: astier basílio


Tavinho Teixeira é poeta. Publicou Deus Somos Nós (1998), um livro que ele lançou simultâneo a um monólogo de teatro com o mesmo nome. Lançou também outro livro de poemas, Luzeiro Volante (2002). Participou, como ator, de produções no cinema. Destaque para A Pedra do Reino (2007), de Luiz Fernando de Carvalho. Agora, o irrequieto poeta está à frente de mais um projeto. Tavinho está dirigindo um longa. O filme se chama - provisoriamente - Estrada Elétrica, e neste momento a produção recebe os ajustes finais na ilha de montagem.

O filme não foi pensado. Não foi arquitetado. Tavinho Teixeira acompanhou a filha, Mariah (atriz de Baixio das Bestas), nas gravações de um curta, filmado no interior de São Paulo, na cidade de Vinhedo. “Ela não estava muito bem, não queria fazer o filme, eu fui fazer a preparação dela”, explica. “Quando cheguei lá, o pessoal ficou dizendo: Ah, a atriz principal veio com o pai”. O entrosamento entre Tavinho e a produção foi imediato. “Começamos a falar uma língua muito próxima. E na pousada mesmo, onde a gente estava, eu tive uma ideia. Falei do roteiro e enquanto a gente filmava, já começamos a procurar locações”.

A equipe topou ficar mais dois dias filmando o roteiro de Tavinho Teixeira. Perguntado sobre como era a experiência de, ao mesmo tempo, estar por trás e diante das câmeras, Tavinho revelou muito da natureza estética de A Estrada Elétrica. “Quem dirige o filme é o personagem. A gente abre a câmera é ele quem leva. É ele quem dá o mote”, explica.

Além de São Paulo, Tavinho Teixeira filmou em Foz do Iguaçu, nas Cataratas. Quem faz a fotografia é a paraibana Érica Rocha. A Estrada Elétrica é sobre um andarilho que tem fixação em filmar fios de alta tensão. “Tem poucas palavras, é um filme muito silencioso”, diz. “O que mais me incomoda no cinema brasileiro é a palavra; é o excesso de explicação. Muito do que eu filmei dispensa a palavra, a imagem já explica”, opina.

Primeiramente, Tavinho escreveu um roteiro com muitas falas. “Eu escrevi como quem estivesse escrevendo um livro”, relembrou. “Páginas e mais páginas para serem ditas em off”. Durante as filmagens, muito do que seria falado, caiu. “E uma outra grande parte veio cair fora na ilha de edição”, revela. Aliás, foi na mesa de edição, com o cineasta Ely Marques, que se decidiu não fazer um curta, e sim, um longa. “Quando estávamos fazendo o segundo corte, Ely me falou: aqui tem um longa. A partir daí, nós apostamos mesmo em fazer um longa”.

Com a mudança, Tavinho convocou uma equipe local. Integraram o projeto os cineastas Bruno de Salles e Arthur Lins. Para dar suporte ao longa, Tavinho se valeu da cooperativa Filmes a Granel, que bancou parte da produção. “Quando finalizarmos, vamos batalhar pra fazer um transfer (tranformar a mídia digital em película)”, comentou Tavinho.

O acaso foi um dos componentes principais na realização deste longa. Em Foz do Iguaçu, onde acabou filmando a abertura do longa, Tavinho foi dando sentido e complementando a história do seu personagem. “Descobrimos lá que ele é funcionário da Hidroelétrica do Itaipu”.

Sobre o fato de lidar com outras artes como a poesia e o teatro, Tavinho diz que isso são rótulos e que ultimamente o cinema tem lhe interessado muito mais. “Sou um investigador de linguagens”, afirma.

[publicado no Jornal da Paraiba, em 9/10/2010]





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